quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Minha penumbra

Estava em minha vista uma paisagem vazia. Entre mim e o nada, uns quatro metros para cima da porta de vidro. Cortam-me de um canto a outro, os raios que batalham seu lugar no chão da terra adiante. A brutalidade com a qual riscam os céus, rasgando o ar, forjam a penumbra que me habita. Entre um raio e outro, meu rosto. Entre um outro e raio, a escuridão. Entre um outro e luz, meu rosto. Entre uma luz e outra, minha penumbra. Sem esperar, aquele infinito multiplicou-me. Vi-me pasmo ao me ver. Era apenas eu e uma porta à frente do infinito turbulento. E eu me encarava, ao mesmo tempo que via em mim o infinito a que estamos assujeitados. Num piscar de olhos, eu não estava mais lá. Eu agora corria. Eu que agora vê e vejo, sente e sinto o enfrentamento do vento no corpo a diluir-se no infinito, que é o mesmo.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Longe de mim

Li em alguma página por aí que Caetano Veloso era hipocondríaco aos vinte e tantos anos. Pior! Que tinha medo de morrer a qualquer momento. Ora, se tal sentir acomete um homem daquele quilate, imagina se a um pobre viajante como eu não ocorreria. Sinto-me até lisonjeado por compartilhar, nos agoures da minha juventude, de semelhante sentimento. Na verdade, sinto-me é incompleto. Apossa-se de mim o sentir corrosivo; e se isso for amar, dispenso-lhe. E se isso for ser feliz, que seja, longe de mim.